Nos anos 80, em várias Redações e assessorias de imprensa do Brasil, havia um pôster com a foto de Cláudio Abramo -um dos mais respeitados jornalistas brasileiros de todos os tempos-, com sua seguinte frase: "O jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter". Se é assim, como concordar com a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo? Afora o fato de essa obrigatoriedade ser uma imposição da ditadura militar, a exigência da formação acadêmica é socialmente seletiva, pois exclui do exercício da profissão aqueles que não tiveram a oportunidade de frequentar uma faculdade e são talentosos jornalistas. O próprio Cláudio Abramo é um exemplo disso. E é justamente de Cláudio Abramo uma das mais contundentes declarações contra essa obrigatoriedade: "Para ser jornalista, é preciso ter uma formação cultural sólida, científica ou humanística. Mas as escolas são precárias. Como dar um curso sobre algo que nem eu consigo definir direito? Trabalhei 40 anos em jornal e acho muito difícil definir o que meia dúzia de atrevidos em Brasília definem como curso de jornalismo. Foi o que fez o patife do Gama e Silva (ministro da Justiça de Costa e Silva), que elaborou a lei para tirar os comunistas dos jornais". (Cláudio Abramo, "A Regra do Jogo", São Paulo, Companhia das Letras, 2002, páginas 247 e 252)."
Em setembro de 1977, vinte e cinco dias antes do general Geisel demitir o general Sylvio Frota, o então publisher da Folha de São Paulo, Octavio Frias de Oliveira, tirou Claudio Abramo definitivamente do comando do jornal e cancelou as colunas diária e a semanal de Alberto Dines, que ficaria apenas como diretor da sucursal do Rio, entre outras decisões drásticas. Precisava salvar seu jornal. A coluna semanal era o Jornal dos Jornais, que se tornaria a primeira atividade sistemática de Crítica de Mídia no Brasil. Durou de 1975 a 1977.
No seu livro A Regra do Jogo, Claudio Abramo explica o que aconteceu:
“Nesse episódio houve uma mistura de vários componentes. Um deles era a necessidade que o jornal tinha de abrir caminho para o pessoal novo que vinha chegando... ...e que é normal. Só achei ruim o Frias não ter discutido a questão comigo, pois eu teria compreendido perfeitamente. Outro foi o fato de que eu tinha de novo ficado muito importante. O general Silvio Frota... ..estava preparando o golpe. Se ele vencesse, eu seria fuzilado e Frias preso e, se Frota tentasse o golpe e perdesse, o herói seria eu. De modo que a situação não interessava a Frias de um modo ou de outro”.
“Pode-se dizer também que, no projeto de abertura, houve um acordo tácito entre os militares e os donos de jornais. Creio que eles não chegaram a falar no assunto, mas deve ter havido um entendimento implícito de tirar os chefes de redação que eram trouble-makers. Subitamente, num prazo de dois ou três anos fomos todos eliminados.”.