5.7.09

Jornalismo é mais arte do que ciência, diz jornalista sem diploma

05/07 - 14:54
Lecticia Maggi, repórter do Último Segundo

Este artigo segue as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

“Existe faculdade para escritor de livros?” Com essa pergunta o jornalista Antonio Vieira, de 53 anos, de Brasília, questiona o porquê da exigência de diploma para jornalistas. Vieira, que é formado em administração de empresas e com especialização em matemática financeira, trabalha como jornalista há 20 anos e lidera o Movimento em Defesa dos Jornalistas Sem Diploma (MDJSD).

Para ele, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de 17 de maio, que derrubou a exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista, foi uma vitória da “liberdade de expressão”.

No site do movimento, que foi fundado em 5 de março de 2005, Vieira diz que o “verdadeiro jornalista se escora no dom do espírito, em razão do qual se expressa intelectualmente”. “Jornalismo é mais arte do que ciência”.

"Várias vezes fui processado e ganhei porque consegui provar que essa lei era inconstitucional"

Vieira diz já ter trabalhado em jornais de Tocantins, Minas Gerais, Goiás e Bahia, e afirma que no interior do Brasil “os pequenos jornais são dominados por jornalistas sem diploma”, já que os diplomados preferem trabalhar na capital, em grandes veículos.

Mas, nem mesmo a falta de profissionais diplomados, fez com que ele não fosse alvo de processos nos locais por onde passou. “Se você critica um prefeito corrupto, a primeira coisa que ele faz é te processar por exercício ilegal da profissão. Várias vezes fui processado e ganhei porque consegui provar que essa lei era inconstitucional”, afirma.

"Quando há duvida jurídica no STF a decisão sai por cinco a quatro. Essa foi de oito a um"

Ele cita o mesmo argumento utilizado pelo presidente do STF, Gilmar Mendes, para abolir a obrigatoriedade do diploma: a Convenção Americana dos Direitos Humanos. No seu 13º artigo, a convenção diz que “toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito inclui a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer natureza, sem considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer meio de sua escolha”. “Quando há duvida jurídica no STF a decisão sai por cinco a quatro. Essa foi de oito a um”, argumenta.

Vieira rebate ainda que é difícil definir o currículo para uma faculdade de Jornalismo – assim como seria para uma faculdade de escritor – e que ética não se aprende nos bancos de uma escola. “É a mesma coisa que achar que vai se aprender moral. Isso é da sua família, religião, formação.”, afirma.

O "jornalista-administrador" comemora a decisão do STF, mas faz questão de dizer que considera que no mercado de trabalho há espaço para todos – diplomados ou não – desde que sejam bons. “O que vale é a competência”, afirma.